segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Propaganda enganosa

Há um tempo, foram vistas matérias em revistas de grande circulação e emissoras de TV sobre um medicamento que supostamente serviria para “reduzir a barriga”, o Rimonabant. Prontamente, fui me informar sobre a substância e fiquei alarmado, me questionando como seria possível que veículos de comunicação pretensamente sérios fizessem aquele tipo de matéria. Esclarecendo, o Rimonabant é um medicamento que atua no sistema endocanabinóide, antagonizando o efeito gerado pelo receptor endocanabinóide e, consequentemente, diminuindo o apetite (Isoldi & Aronne, 2008). A famosa “larica” que alguns usuários de maconha sentem após o uso da droga se deve justamente à ativação desse receptor. A minha pergunta é: como o medicamento poderia reduzir seletivamente a gordura da barriga? A proposta apresentada na revista não fazia nenhum sentido! Não havia como o medicamento reduzir a barriga e, o pior, mesmo os estudos que encontraram efeitos na perda de peso mostraram resultados pouco relevantes. Uma revisão dos artigos sobre
o tema mostra que a perda de peso com o uso prolongado do Rimonabant ficaria na casa dos 4 quilos, e isso para pessoas obesas (Curioni & Andre, 2006)! Além da pouca eficiência, o medicamento traz sérios efeitos colaterais, principalmente no sistema nervoso, tais como sintomas de esclerose múltipla, doença de Parkinson e até mesmo mal de Alzheimer. Inclusive algo muito sério e que a mídia relatou pouco foi a ocorrência de diversos suicídios entre os usuários do remédio. Será que isso vale a pena por meros 4 quilos? Como alguém pode dizer que essa seria a solução para se perder barriga? Além de ineficiente, o medicamento traz sérios riscos! Um exemplo do que estou falando é um estudo que usou Rimonabant em milhares de pessoas e obteve resultados preocupantes. A droga não diminuiu o risco de problemas cardiovasculares e, pior, provocou sérios efeitos colaterais, com destaque para problemas gastrointestinais, desordens neuro-psiquiátricas e transtornos psiquiátricos que resultaram em alguns suicídios (Topol et al., 2010). Isso levou o estudo a ser interrompido precocemente e os autores a afirmarem que o experimento foi uma importante lição para o desenvolvimento de medicamentos. Mas será que a lição foi aprendida?

Muita gente pode se perguntar como isso é possível? Como é possível que os veículos de informação divulguem informações falsas e perigosas de maneira indiscriminada e permaneçam impunes? Isso só é possível porque a indústria farmacêutica movimenta uma enormidade de dinheiro. E muita gente coloca o dinheiro acima de tudo! É por isso que o Dorflex, apesar de ser proibido nos países de primeiro Mundo por causar um elevado número de mortes devido à agranulocitose (Andersohn et al., 2007; Merida Rodrigo et al., 2009), ainda assim é um dos medicamentos mais usados no Brasil. Sim, é possível! Bem como é possível que o Vioxx tenha se tornado um dos medicamentos mais populares do Mundo apesar de ter causado danos à saúde e matado milhares de pessoas (Faunce et al., 2010). Esse caso do Vioxx foi tão emblemático que a forma como a informação foi manipulada e o medicamento foi empurrado goela abaixo dos pacientes gerou vários editorais em revistas científicas importantes (Frazier, 2005; Waxman, 2005; Armstrong, 2006).


Disponivel em :gease.pro.br

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